Só
Desde a hora da infância eu não fui
Como outros foram - eu não vi
Como outros viram ? não pude tomar
Minhas paixões duma primavera vulgar.
Da mesma nascente eu não traguei
A minha tristeza; eu não despertei
Para o júbilo comum o meu coração;
E tudo o que amei, eu amei em solidão.
Nesse tempo da infância ? na madrugada
Da vida mais tormentosa ? foi traçada
Das profundezas do bem e do mal
O mistério que me mantém sem igual:
Da torrente ou da fonte,
Do rubro penhasco do alto monte,
Do sol que gira em meu torno
Num matiz dourado de Outono ?
Do relâmpago no céu
Que tão perto de mim se deu ?
Da tempestade e do trovão,
E da nuvem que adquiriu a feição
(Quando azul era o resto dos Céus)
De um demónio aos olhos meus.
Edgar Allan Pöe, trad. Henrique Fialho
Publicado em 7 de Março de 2008