(...) assim prossegue caminho aquele que não aprendeu a ler nos relógios assim se esquece a vida na urgência dos pulsos ele hesita recua pondera a situação mas nenhum grito o detém o crime de escrever fascina-o a adolescência sumiu-se entre a noite e a alba frágil fio de água suspenso na luz lago minúsculo sedução do pólen serenidade da pétala misturando-se ao estrume misterioso rumor alquímico do ouro a obra é construída na paciência do sangue rubra cicratiz de tinta insónia do sexo corpo em transumante vigília morte dissolvida na cinza dos dias a pouco e pouco ele contrói um subterrâneo em vidro gasta o tempo incomensurável da solidão explora filões de preciosos minerais avança até ao início remoto da água toca a ferida pedra do coração da terra dele crescem a desolação e a incerteza dele irrompem a queda da voz e o voo das aves a palavra ainda intacta e não cansada mas de metáfora em metáfora ficou adulto para sempre o subterrâneo de vidro é um estilhaço ficou-lhe a ilusão de nele ter vivido e sonhado as horas sem ninguém sem paixão enquanto todo o texto se cobre de ferrugem e envelhece com ele Al Berto