Existe amor? Palpável como o dia, como a matéria com que é feito o objeto chamado mesa, catedral ou baço nutrindo em tantas coisas? Como amar esta incorpórea substância carnal, este lampejo de chão no infinito? Existe amor? Palpável como a terra? Debaixo ou sobre a terra, ainda carne, algum finado saberá do amor, essa chama votiva a brilhar ainda? Amou Torquato a Maria? Amou deveras? Digam-nos os anjos corcundas do além, a ave agoureira ao céu crucificada, o revoar de asas na papal coroa. Amou Torquato a Maria, ainda carne? Ama Maria a esse pó apenas nome legado aos filhos como letra morta, como moeda gasta em mão mendiga? Chupando um dedo só, o amor se alimenta. Nauro Machado