O Poeta Operário
(gentileza de Jaime Roriz)
Gritam ao poeta da revolução:
“Seria bom ver-te a trabalhar num torno.
Versos o que são?
Simples adorno!
Trabalhar não é contigo, se calhar.”
Mas, para nós,
Trabalhar
É a ocupação favorita.
Eu também sou uma fábrica
E lá por não ter chaminés,
Talvez
Seja muito mais difícil.
Bem sei
Que não gostas de frases vãs.
Cortar carvalhos, isso sim, é trabalho.
E nós
Não seremos também derrubadores de árvores?
As cabeças das pessoas tratamos como carvalhos.
Certamente
Pescar é uma coisa respeitável,
Lançar a rede e apanhar esturjões!
Mas o trabalho do poeta é mais respeitável:
Não pescamos peixe mas sim gente viva.
Trabalhar na forja é trabalho violento,
O ferro fundido bater e temperar.
Mas quem é
Que nos pode acusar de mandriar?
Com a goiva da linguagem polimos as mentes.
Quem vale mais – o poeta
Ou o técnico
Que conduz as pessoas para os bens materiais?
Ambos.
Os corações são iguais aos motores,
A alma igual a um motor complicado.
Somos iguais,
Camaradas na massa trabalhadora,
Proletários do corpo e da alma.
Só juntos
Remoçaremos o universo
E com manchas poderemos vencer.
Das tempestades verbais defenderemos o povo.
Ao trabalho!
O trabalho é vivo e novo.
Os oradores fúteis, sem dó
Ao moinho!
À fresadora!
Que a água dos discursos dê a volta à mó!
Vladimir Maiakovski
Publicado em 23 de Junho de 2008