De madeira lilás (ninguém me crê) se fez meu coração. Espécie escassa de cedro, pela cor e porque abriga em seu âmago a morte que o ameaça. Madeira dói?, pergunta quem me vê os braços verdes, os olhos cheios de asas. Por mim responde a luz do amanhecer que recobre de escamas esmaltadas as águas densas que me deram raça e cantam nas raízes do meu ser. No crepúsculo estou da ribanceira entre as estrelas e o chão que me abençoa as nervuras. Já não faz mal que doa meu bravo coração de água e madeira. Thiago de Mello