Figueira ó árvore que irrompes da tua secura suportando o penoso desdobrar de teus ramos amaldiçoada ofereces ainda a doçura de teus frutos a sombra de tuas folhas a firmeza do teu apego à terra Ó dura bruta forma heroína da escassez ó teimosa que insistes e insistes e nos ensinas que a vida é feita de incessantes mortes e que a nós suas futuras vítimas nos aguarda a todo o momento a derrocada do templo sem nenhum outro fruto além da amargura Ó doçura porque amargas tanto a nossa tentação de florir ao mesmo tempo sendo tudo e nada ? Ana Hatherly