Era Inverno e nós tínhamos sede. Talvez por causa do medo, essa forma de sermos fiéis a nós próprios. Cambaleámos até ao fundo de Lisboa, que nesse dia se estipulou ser uma casa outrora propriedade de um judeu. Pássaros esvoaçavam numa sala sem gente, a janela ao fundo, em contraluz. Escondemo-nos atrás de uma cortina, espreitando pelo canto da janela a memória do nosso passado comum. Depois, estupidamente, discutimos poesia. Éramos cinco. Decidimos separar-nos em grupos de quatro. Por qualquer razão fiquei sozinho. Vítor Nogueira