Eu ia na passadeira com um propósito mas a gravata de um homem atirou-me para o coração do abismo. Uma insuspeitada gravata de seda com pintas discretas, o catalizador da vertigem. Aquilo que o vento levantava na avenida era uma espécie de música, um barulho de sinos remoto e descompassado, viam-se algumas flores a entrar na boca do esgoto como se fosse ali a casa delas. E sem deixar eco qualquer coisa ruía nas fachadas, o próprio oxigénio era nesse instante como uma língua estrangeira. Eu sentia na garganta os tambores do sangue e os prédios enfadonhos pulsavam na taquicardia, caíam em desamparo para a cova do meu peito. Do outro lado da rua um sinal de trânsito foi a minha âncora. Rui Pires Cabral