Introdução ao Tempo
III
Será que este instante te acomoda no tempo?
A desvanecer-se como o tufão que mercuriza
os ilhéus, um trigo lento e milenar em germinação,
a pirâmide que se anguliza.
Somos cúmplices, onde o rosto desponta
e devora e surge a cidade submersa da infância,
há um calor tão denso quanto é estridente,
rumorejante, a tua memória.
Sentes no teu dorso o escaninho que conduzes?
Avalias o que isto cala para a jornada?
Contém gestos e palavras. Alucina-te,
mas silencia. Corrói-te. No invisível despontar
das sombras compassa o futuro, dilacera
lentamente o pão. Alonga as facas
que cristalizam os gestos. É já o momento
chegado. Aguarda ainda, não soltes os cães
da noite, as esponjas envolventes,
nas áleas de choupos que bordejam
os pequenos rios, sê contido até cercares,
interrompe a dor que te sobe no peito,
a crisálida da fúria. Ataca.
Carlos Eurico da Costa
Publicado em 12 de Outubro de 2008