O súbito fragmento do discurso que aos ouvidos chega como um eco e se escoa de árvore em árvore de rio em rio o súbito fragmento chega deformado e vem rasteiro num bolor de estrume escorrendo sua baba sobre a terra sua seiva num rasto convertendo tudo num caminho pisado gasto imundo como passos moldados no descuido o súbito fragmento do discurso erra não tem a convicção do nosso ouvido chega a nós como a imagem deformada sobre um espelho partido contra o futuro o súbito fragmento fabrica na paisagem um corpo cujo ventre se resume ao desejo de um súbito fragmento de um fragmento capaz do nosso ouvido onde dorme acocorado o fervor da paz que fede sobre o mundo podre este momento. Nuno de Figueiredo