Logo que desceu do comboio, só, atravessou a cidade deserta, entrou sozinho no desocupado hotel, franqueou a porta do quarto individual, e escutou com assombro o silêncio. Dizem que levantou o auscultador para chamar a alguém mas é falso, completamente falso. Como se houvesse alguém a quem chamar - ninguém vivia na cidade, ninguém no mundo. Ingeriu a água, as pequenas drageias, e esperou a chegada do sono. Com um certo receio pela sua saúde - tinha pela primeira vez firmado a sua existência - talvez curioso, com amolecidos gestos, sentiu chegar o peso das pálpebras. Horas depois - um enigmático sorriso desenhava-lhe os lábios - a si mesmo anunciou, convictamente, a única certeza que no fim tinha adquirido: jamais voltaria a dormir só num quarto de hotel. Juan Luis Panero