(gentileza de Amélia Pais) Que a noite seja perfeita se formos dignos dela Nenhuma pedra branca nos indicava o caminho Onde as fraquezas vencidas acabavam de morrer Íamos para além dos mais longínquos horizontes Com os nossos ombros e com as nossas mãos E esse entusiasmo tamanho Até ao brilho das abóbadas insondáveis E essa fome de permanecer E essa sede de sofrer Sufocando-nos a garganta Como mil enforcamentos Partilhámos as nossas sombras Mais do que as nossas luzes Mostrámo-nos Mais gloriosos com as nossas feridas Do que com as vitórias esparsas E as manhãs felizes Construímos muro a muro A negra muralha de nossas solidões E essas cadeias de ferro prendendo o nosso andar Forjadas com o mais duro metal Que perfeita seja a noite em que nos afundamos Destruímos toda a felicidade e toda a ternura E os nossos gritos não terão Doravante mais do que o trémulo eco Das poeiras perdidas Nos abismos do nada. Alain Grandbois