Nada em vão
Um passo pra frente, dois passos pra trás
assim me (des)construo
tecendo e destecendo a trama de minha vida
atribuindo-lhe novos significados, matizes, texturas
Penélope de mim mesma
Sigo veredas que não levam a lugar algum
utilizo métodos que já se mostraram improdutivos
aro terras inférteis
rego sementes que não germinam
Ouço profecias – utopias – de oráculos cegos
acredito no canto das sereias
Nada em vão, no entanto: como Sócrates,
aprendendo uma ária com flauta
enquanto se lhe preparavam a cicuta
Pra que? Pra aprendê-la antes de morrer,
só isso
Estendo a mão para um vilão
dou (mais) uma chance ao traidor amigo
Como uma criança
que de nada desconfia
me doo para amores que não se concretizam
Explodo em lágrimas após cada – previsível – perda
quando não, resignada, sorrio
Mas jamais me esqueço de retornar ao caminho
porque a verdadeira viagem nunca é de ida
e sim de volta, como a de Ulisses
Ana Guimarães
Publicado em 4 de Fevereiro de 2009