O solitário gesto de viver não demanda a coragem que há na faca, na ponta do punhal e até no grito de quem fala mais alto e está coberto de razões, de certezas, de verdades. O gesto de viver se oculta em obras tão íntimas do ser, que o desfazê-las é mais que indelicado, é violência que nem sequer se pode conceber. O gesto de viver é só coragem, mas, de tal forma próprio e incomparável, que não se exprime em verbo, imagem, mímica ou qualquer outra forma conhecida de contar, definir ou explicar. A coragem no gesto de viver está em coisas simples, por exemplo, na diária decisão de levantar. E mais, em se vestir e trabalhar por entre espadas, punhos e navalhas, peito aberto, sem armas, passo firme, e à noite, ainda intato, regressar. Reynaldo Valinho Alvarez