Da verdade efémera
E o mistério? Ainda transfiguramos
o mistério no rastro inacessível da verdade,
ainda trocamos o crepúsculo por outra linha fugaz no horizonte ígneo? A sombra fugitiva
que habita o nosso corpo, a alma,
a insegura alma de existirmos?
Nascem e morrem, as cidades,
sucedem-se os dias, as estações, os anos,
esfuma-se o tempo, foge entre os dedos a vida
que nos religa à fuga uma outra vez ainda,
a solidão ameaça, procura-nos a morte
com o medo de querermos instintivamente resistir, a verdade efémera, o amor.
Outro cigarro?
Outro mistério, ainda,
na auréola de fumo sobre as cabeças
- e o mistério, a que devastação conclama?
O destino das coisas, o mundo de instantes
à deriva?
Amadeu Baptista
Publicado em 4 de Agosto de 2009