Cabelos ao vento, soltos, como vão revoltos — ah — seus pensamentos. Doze, compassadas, tangendo o silêncio e o tempo, doze badaladas... Fina e clara, a chuva, qual a janela que tem mais bela cortina? Nuvens e mais nuvens a passar, bem que me deite. Foi-se o ... meu luar. Uma flor no mato solitária, rubra, sangue no verde compacto. Não tem sul nem norte, nem oeste ou leste — é céu. Céu somente azul. Voltevolteiando no cristal do tanque, as carpas silenciosonhando... Sol da madrugada. Vai surgindo: dentro de uma teia iluminada! Uma borboleta. Nada mais, nem leve aragem. E a rosa é desfeita. Flor em que não vai a libélula pousar. Na espuma do mar. Por acaso a sua caminhada é a mesma, ou ela o acompanha, a lua? Ramagens crestadas reflorindo: borboletas nas cinzas, pousadas. Voz da cachoeira, ao viço da mata vai líquida poeira. Reflita: no espelho, aquele que o imita, quem será? Você? Lembradas jamais, as flores do morto vão mortas, muito mais. Tem cativo, o canto, mas o muda borboleta é livre, no entanto. Noite a dentro, um cão late, insone, a quem nem late, seu insone irmão. Ah, esse berreiro das cigarras no austero parque do mosteiro... Num céu claro e puro, um corvo paira sereno — feio, torvo, escuro. Cai a neve, e penso no quanto se deve ser puro como a neve. Que fazer com as mãos, não mais — não — senão guardar seu fugaz perfume? Ouracorrentado. Entre seios femininos, recrucificado. Espana a poeira de luz das estrelas, ou — no vento — é palmeira? Mudos edifícios permutando, permutando surdos malefícios. Fuçando em monturos, anjos andrajosos de presépios escuros. Chuva de verão, chuva de flores na chuva. Reflorindo, o chão. Os bois, pacientes. Mas as rodas, por que vão gemendo, gementes? Brancos, a igreja e o casario entre verdes, escorrendo ao rio. Na rua quieta, a flauta de um vagabundo — músicopoeta. Nas mãos de uma negra — noite-escrava —, uma urupemba peneirando estrelas. Oldegar Vieira