Gravura no vento. Pois é desacontecido o acontecimento. Em êxtase, vê-las... Uma a uma, todo o céu porejando estrelas. Pendentes de um fio, gotas de chuva — ou de sol — sob o sol do estio. Dentro do aranhol, de repente, frente a frente, uma aranha e o sol. Animal nasceu. Desanimalmente, agora, vive... num museu. Tarde longa e quente. Tange longe uma araponga seu grito fremente. Compensar sua ausência — evidente, este evidência! — só sua alegria. À pista vermelha de uma flor, vem uma rima e aflorissa: abelha. Incrível talento, o desse escultor das nuvens — genial! —, o vento. Ploc! Uma rã pula no silêncio da lagoa, e o silêncio ondula. Não metal de sinos. Vil-metal agora é a rima que canta o Natal. Nos cinzeiros jazem — antecipantes — as cinzas mortais dos fumantes. Seu corpo enriquece a terra. E a saudade é a flor que floresce. Ela — uma andorinha — vendo as outras que não estavam — nem uma — sozinha. Claro desafio: sete cores luminosas ante um céu sombrio. Fantasmagoria: uma borboleta preta em noite vazia. Interrogativo à beira de um charco, um velho coqueiro — pendido. Lenta, lentamente, um caleidoscópio gira. Gira-sol poente. Oca, ressequida, na carcassa da cigarra, em silêncio, a vida... Oldegar Vieira