Na minha bagagem
Na minha bagagem cabem todas as estações que vivi
Entre tantas outras coisas de duvidosa utilidade cabem ainda
na minha bagagem
as minhas memórias
e os meus esquecimentos
(sobretudo aqueles de que ainda me lembro)
A minha bagagem parece-me muitas vezes enorme
mas depois – quem sabe? - talvez haja por ali um problema de arrumação
um excesso de cachecóis a falta de qualquer coisa
Certo, certo, é que a sinto pequena, a minha bagagem
quando me lembro de mim
em menino
e de como me pareciam tão grandes todos os adultos
A minha bagagem não serve de exemplo senão a mim próprio
e ao que de mim resta
depois de tantas viagens feitas e de tantas outras
que ficaram por fazer
Tem pouco de memorável
a minha bagagem
mas cabem nela
uma quantidade de coisas que não esqueci
um par de sonhos
uns ténis para jogar à bola
os meus quixotes
aqueles que amo para lá de qualquer meridiano
Comparecem ainda na minha bagagem
uns quantos amigos que considero luminosos
mesmo quando não são brilhantes
e que seriam sempre raros mesmo se fossem muitos
O futuro da minha bagagem confunde-se com o meu.
Rui A.
Publicado em 9 de Fevereiro de 2011