Tudo o que houve, permanece, proeza do corpo como um sulco bárbaro da memória dos dias, ritos, remorsos, sementes futuras, a mudez. Tudo aconteceu nas lágrimas e nas veias, na precisão das luzes, no lugar móvel da ordem, no gelo e no lume que entre as coisas navegam, na palavra deflagrada, na paz das páginas. Para onde vai o que não se move, o que é dogma de cal, madeira, pedra ou ferro? Como chamar à alma, à linguagem, às cores que de amor pela morte morrem caladas, na área eterna da casa, a que permanece na velhice dos anos e dos ossos consumada, como uma gota do tempo para além dos séculos? Orlando Neves