Fabricava sombras, chinesas, decorativas e pontualmente comunhões, mas o telefone nunca tocava, por vezes um rato cruzava o cenário, procurando queijo, esconderijos, essas coisas, já sabem ao que me refiro, outras vezes havia fantoches, amiúde ia perdendo os poucos papéis a que se podia permitir, em raras ocasiões bebo, declarou, nunca quando trabalho, só quando a garrafa caiu ao chão, e depois, é que adivinhou aquela solidão que o contemplava, inventou um chapéu imaginário, também de sombra, e fez uma saudação magnífica no ar, as cores das lâmpadas resvalam ainda pelas paredes, as algemas embutiram as mãos, uma última saudação, disse, o cenário, disse, trata-se da minha vida, a solidão brindava, tão solitário como ela o carro partiu, outro jogo de sombras contra a parede. Alfons Navarret