A tarde põe as tristes mãos de seda, ermas de jóias e de pedraria sobre o cabelo de ouro da alameda sonolenta de maio e fim de dia a tarde põe as tristes mãos de seda. O mistério do outono embala tudo no silêncio de seu recolhimento; e as mãos da tarde, suaves, de veludo, descem do céu, num gesto longo e lento, ermas de jóias e de pedraria. Um par de lábios, trêmulos, fugazes, perfumados de sombra e de desejo, depõem, numa carícia de lilases, a religiosa unção de um grande beijo sobre o cabelo de ouro da alameda. E esta fica a sonhar, como quem sonha um infinito sonho de saudade, numa quietude mística e tristonha, sob o incenso da meia-claridade, sonolenta de maio e fim de dia... Alceu Wamosy