Conjecturas
Se eu tivesse à mão um poder divino
mesmo que nele não acreditasse
estendia hoje oferendas desfazia-me em terços
prometia ser sempre bom mais ainda que tentá-lo
E se necessário fosse, na missa,
deslumbrava beatas ou fazia por isso
em busca de um resultado.
Se tudo isso ajudasse pois tudo isso eu faria,
e seria completo, e completamente recompensado,
do esforço de rezá-lo.
E amanhã se veria.
E se eu acreditasse no poder mágico de um gesto
se soubesse, num encontro de festa,
erguer o meu corpo ao alto- mantendo pose e encanto
apenas para quem quisesse;
Se tivesse o dom de contornar fome sede e cansaço
por uns quilómetros mais de companhia
mordendo o ambiente e celebrando o sorriso
de qualquer pobre ou burguês
de qualquer idade
tudo isso eu faria, se pudesse.
Sem queixa ou visível dificuldade,
completo e refeito, mesmo se a quatro patas
do esforço de tentá-lo.
E a manhã continuaria.
Isso é que era bom, não precisava de me encomendar a um estranho
que me povoasse o caminho com os teus olhos de mel
nos sábados de esplanada, encontros e metropolitano
E a concluir:
Se eu acreditasse na força inteira das palavras,
gritava-as bem cedo
no mais cedo da manhã.
Mas se necessário fosse para um melhor resultado
sei bem que hoje seria o mais chato
dos vizinhos.
Amanhã se veria,
que a manhã continuaria.
Uma manhã de Abril.
Rui A.
Publicado em 18 de Abril de 2012