Da Lua disseram já ilustrados sábios que foi musa da sua ciência da sua literatura dos seus devaneios Investigadores avulsos do comportamento atestam que a Lua influencia, claramente, a nossa disposição para viver o dia e a noite, mas que é ao crepúsculo e ao amanhecer que a Lua nos pode tornar, verdadeiramente, cúmplices de um deslumbramento cósmico. Muitos poetas devem já ter falado de como a Lua participa no voo das gaivotas. Guerreiros emplumados desde sempre esperaram da Lua participação empenhada nas suas cóleras nas suas conquistas mas as fronteiras que a Lua desenha são feitas daquilo que nos une e não daquilo que nos separa. É de muitos sabido que a Lua é boa confidente e que é seu mester tratar bem os nossos sonhos – quando sonhamos. Houve já quem predissesse que a electricidade e outras conquistas de séculos recentes e emergentes permitiam antever (com a segurança própria dos simpósios) o declínio lunar, progressivo e irreparável. E de acordo com uma das correntes, talvez a mais representada, a Lua seria banalizada, de tanto se falar nela – perderia valor, fulgor, importância. Proclamam outras vozes que a Lua está demasiado vista e demasiado à vista – devendo o seu acesso ser condicionado. Mas, insiste-se, a participação da Lua no voo das gaivotas é assunto da maior relevância e nunca é demais sublinhar a provável semelhança (também referida por alguns poetas, para não falar em muitas outras crianças) entre o comportamento das gaivotas e o de alguns homens e mulheres que teimam em ter as janelas abertas e em participar (também) no voo das gaivotas. Rui A.