Era uma vez uma noite, Uma noite com estradas e esquinas de amor Composta por voo, sal e tom de cereja Pintada com inúmeros lápis de cor. Está desenhada nos sonhos dos que estremecem À voz da viola e das cordas da vida, e até parecem Aparentemente escarpadas, algo que aleija… Houve, nessa noite, muito de irrecuperável e belo E como não poderia deixar de sê-lo? Foi ao luar que os dois, à espera do milagre, Dissertaram diversos e muitos doutos factores Pondo razões e números à frente dos amores. Nem olhares nem toques nem lágrimas Bastaram para os embriagar de sonho e aconchego. Podiam pedir eles, em vão, a luz de mil estrelas Que iluminassem a voluptuosa e inóspita noite… (…quem dera aos dois poderem vê-las…) Podiam suspirar eles por fartos e doces beijos Vindos das suas bocas sedentas de alma e rubor. Não. Houve nesta noite o mistério das coisas perdidas Ou nunca achadas, sempre desconhecidas, Souberam eles o sabor das suas lágrimas? Conheceram eles os roteiros do desespero, a sombra da vida E as dependências da alma? Não. Mas sabem bem que, em todas as razões, Salvo raras excepções, Enquanto houver ventos, sonhos, sol e mar Não mais quererão uma noite doce assim (Medusa, feiticeira, sedenta pelo fim) E, em vez de sonharem com a enganosa escuridão (Não sonharão com as suas estradas e esquinas) Quererão conhecer o doce carpir da verdade A sensação de deixar as águas, que vêm e vão, Escorrerrem por eles abaixo, como se fora saudade Do destino E olharão para o brilho do Sol Que então ficará maior…. “Quando souberes o que tudo isto é”, dizem, “Saberás quanto vale um beijo meu”. V.G.