Era uma vez
Era uma vez uma noite,
Uma noite com estradas e esquinas de amor
Composta por voo, sal e tom de cereja
Pintada com inúmeros lápis de cor.
Está desenhada nos sonhos dos que estremecem
À voz da viola e das cordas da vida, e até parecem
Aparentemente escarpadas, algo que aleija…
Houve, nessa noite, muito de irrecuperável e belo
E como não poderia deixar de sê-lo?
Foi ao luar que os dois, à espera do milagre,
Dissertaram diversos e muitos doutos factores
Pondo razões e números à frente dos amores.
Nem olhares nem toques nem lágrimas
Bastaram para os embriagar de sonho e aconchego.
Podiam pedir eles, em vão, a luz de mil estrelas
Que iluminassem a voluptuosa e inóspita noite…
(…quem dera aos dois poderem vê-las…)
Podiam suspirar eles por fartos e doces beijos
Vindos das suas bocas sedentas de alma e rubor.
Não.
Houve nesta noite o mistério das coisas perdidas
Ou nunca achadas, sempre desconhecidas,
Souberam eles o sabor das suas lágrimas?
Conheceram eles os roteiros do desespero,
a sombra da vida
E as dependências da alma?
Não.
Mas sabem bem que, em todas as razões,
Salvo raras excepções,
Enquanto houver ventos, sonhos, sol e mar
Não mais quererão uma noite doce assim
(Medusa, feiticeira, sedenta pelo fim)
E, em vez de sonharem com a enganosa escuridão
(Não sonharão com as suas estradas e esquinas)
Quererão conhecer o doce carpir da verdade
A sensação de deixar as águas, que vêm e vão,
Escorrerrem por eles abaixo, como se fora saudade
Do destino
E olharão para o brilho do Sol
Que então ficará maior….
“Quando souberes o que tudo isto é”, dizem,
“Saberás quanto vale um beijo meu”.
V.G.
Publicado em 12 de Julho de 2012