Ex Patria
Pedantes, indignos pederastas geográficos
Ordenam queda de lágrimas que, como cascatas,
Rolam pelas faces pálidas de outros homens, outrora
Ternos, crentes e amantes da pátria
(Um outro imposto, só por respirar, ia bem…!).
Gulosos, os tais, como lobos esfaimados
Arrancam carne e escalpam cérebros
Louvando, em choro alegre, o bem que lhes sabe….
(Laus in ore proprio vilescit) (1)
Enquanto os outros homens (quem sabe se ainda em latência)
Nadam num imenso mar de solidão e desespero, vivendo
Tormentos sofridos e angústias desnecessárias (dizem!)
Riem os detritos engravatados que, ainda (em demência)
Insatisfeitos com o deserto dos outros
Saltam sobre dignidades e outros valores
Tomando de assalto os direitos merecidos
E, fazendo uso de palavras vernáculas,
Cobram a vida dos outros. Como poderá tão rigoroso
Inverno dos infelizes homens acabar?
Dói-lhes a alma… o ventre… o sangue… a força, até
O sorriso, mas não, acreditemos, a capacidade de amar.
E prosseguem….
(Esse eum omnium horatum) (2)
Alegres chefias, passem coimas a quem lamente
Doenças por tratar, saberes por terminar, vidas por viver…
Impunidade é, pois, a vossa palavra de ouro!
A quem nada teme e respeita:
Dor, silêncio, grito, abandono, fome de filhos…
Oh país adiado, como podes não chorar por isto também?
(Ius ars boni et eaqui est) (3)
(1) O louvor na própria boca perde valor.
(2) Pessoas que se adaptam a qualquer situação.
(3) O direito é a arte do bom e do justo.
Violante Grilo
Publicado em 22 de Agosto de 2012