Estes são os tempos futuros que temia o teu coração que mirrou sob pedras, que podes recear agora tão fundo, onde não chegam as aflições nem as palavras duras? Desceste em andamento; afinal era tudo tão inevitável como o resto. Viraste-te para o outro lado e sumiram-se da tua vista os bons e os maus momentos. Tu ainda tinhas essa porta à mão. (Aposto que a passaste com uma vénia desdenhosa.) Agora já não é possível morrer ou, pelo menos, já não chega fechar os olhos. Manuel António Pina