O mar, todo ele ainda rente aos dedos, sopra-me os indícios de leite ardido, esse crepúsculo que se incendeia ao contágio de águas retaliadas. Dele também o modo de deter uma frase abrindo-se numa trovoada de ternura, insurge-se pelos interiores da linguagem e envolve-se pela memória. Num lapso de páginas céu e mar escamoteiam-se, enfiam-se-me entre os lábios, irrompe meio lenta a língua nesta luta. A breve trecho sinto a infância à boca das vagas, também ela prestes a juntar-se às areias. Fernando Luís Sampaio