Há alguns dias decidi lutar e só de pensar na luta me causou um cansaço tão infinito que até meus melhores amigos têm mantido uma distância respeitosa. Além do mais, como já passei ao lado dos rios mais famosos do mundo e não me suicidei em nenhum minha falta de amor pela humanidade está suficientemente demonstrada. Como sempre, falo dos outros, mas digo eu, todos podem dormir tranqüilos pensando que estas estórias malucas só podem ser minhas, que já sabemos que tipo de pessoa eu sou. Meus melhores amigos sofrem em diferentes partes do mundo e eu escrevo cartas cômicas sentada no meio do deserto sob o sol de janeiro, enquanto minhas vidas mortas insistem em voltar. Alguns dos meus melhores amigos não se enganam e me oferecem tardes calmas, retiram os objetos incômodos, criam espaço para o meu ruído. Como sou infinitamente preguiçosa acho que nunca tentarei lutar, por isso quase ninguém me cumprimenta, outros dizem coitadinha, e meus melhores amigos caçoam impiedosamente dos ingênuos e não me levam a sério. Juana Bignozzi, trad. Renato Rezende