E finalmente veio o ano de 1914, o último da crónica da ponte sobre o Drina. (...) O Verão de 1914 ficará na memória dos que o viveram como o Verão mais luminoso e mais lindo de que jamais se recordavam, porque, na sua consciência, ele brilhou e flamejou por cima de um gigantesco e sombrio horionte de sofrimentos e desgraças que se entendia até ao infinito. Tinha, deveras, começado bem, esse Verão, melhor mesmo do que tantos Verões anteriores. Havia ameixas com uma fartura que não acontecia desde há muito tempo e o trigo prometia uma boa colheita. Depois de uns dez anos de abalos e convulsões, o povo tinha esperança de que viesse finalmente uma acalmia e um ano bom que o compensasse em todos os sentidos dos prejuízos e dos azares dos anos anteriores. (A mais deplorável e mais trágica de todas as fraquezas humanas é, sem dúvida, a absoluta incapacidade de prevermos o futuro, que tão flagrantemente contrasta com tantos dos nosso dons, talentos e conhecimentos). Ivo Andrić, in A Ponte sobre o Drina