O poema tem mais pressa que o romance, Asa de fogo para te levar: Assim, pois, se houver lama que te lance Ao corpo quente algum, hei-de chorar. Deus fez o poeta por que não descanse No golfo do destino e amores no mar: Vem um, de onda, cobri-la — e ela que dance! Vem outro — e faz menção de me enfeitar. Os outros a conspurcam, mas é minha! Chicoteá-la vou com a própria espinha, Estreitam-me de amor seus braços mornos, Transformo seus gemidos em meus uivos E torno anéis dos seus cabelos ruivos Na raspa canelada dos meus cornos. Vitorino Nemésio