Tenho às vezes um sonho estranho e penetrante Com uma desconhecida, que amo e que me ama E que, de cada vez, nunca é bem a mesma Nem é bem qualquer outra, e me ama e compreende. Porque me entende, e o meu coração, transparente Só pra ela, ah!, deixa de ser um problema Só pra ela, e os suores da minha testa pálida, Só ela, quando chora, sabe refrescá-los. Será morena, loira ou ruiva? — Ainda ignoro. O seu nome? Recordo que é suave e sonoro Como esses dos amantes que a vida exilou. O olhar é semelhante ao olhar das estátuas E quanto à voz, distante e calma e grave, guarda Inflexões de outras vozes que o tempo calou. Paul Verlaine, trad. Fernando Pinto do Amaral