O que me dói É que quando está tudo acabado Pronto pronto Não há nada acabado Nem pronto pronto Pintou-me a casa toda Está tudo limpado O armário fechado A roupa arrumada Tudo belo, perfeito. E no mesmo instante Em que aperfeiçoamos a perfeição Uma lasca diminuta, ténue, microscópica, Não sei onde, Está começando Na pintura da casa E as traças, não sei onde, Estão batendo asas E a poeira, em geral, está caindo invisível, E a ferrugem está comendo não sei quê E não há jeito de parar. Millôr Fernandes