Não há homem que consiga deixar uma marca nela. Todo o passado se dilui num sonho como uma rua na manhã e só fica ela. Se não fosse a testa franzida por um momento pareceria atónita. As maçãs do rosto têm sempre um sorriso. Também não se acumulam os dias no seu rosto, nem alteram o sorriso leve que irradia sobre todas as coisas. Com uma firmeza dura faz cada coisa como se fosse a primeira; no entanto vive-a até ao último momento. O seu corpo firme abre-se, o olhar recolhido, a uma voz doce e algo rouca: à voz dum homem cansado. E nenhum cansaço a toca. Quando se lhe olha para a boca, semicerra os olhos à espera: ninguém se arriscaria. Muitos homens conhecem o seu ambíguo sorriso ou a súbita ruga. Se homem existiu que a soube queixosa, humilhada de amor, paga dia após dia, ignorando dela por quem vive hoje. Caminhando pela rua sorri sozinha o sorriso mais ambíguo. Cesare Pavese, trad. Carlos Leite