Escrevo com as mãos nuas sobre esta folha de papel sem fundo. Sobre este musgo gélido onde escrevo nem sequer existe o rumor da folhagem. As palavras continuam assustadas como um arbusto que não pára de tremer… Escrevo com as mãos nuas. A nudez permite a transparência das sílabas, o decantar das sombras na escadaria da noite, a penetração no obscuro, a revelação do invisível. No olhar encandeado, há candelabros acesos como um espelho polvilhado de estrelas. O corpo deseja-se, invade a noite de seduções… Mas não conseguirei nunca alcançar a luz que pela primeira vez sagrou nossas pupilas: gélido, será sempre o longe que nos afasta das estrelas. Albino Santos