As palavras pesam. Um texto nunca diz a dor das pequenas coisas, Do quotidiano entrincheirado entre compromissos, Das tramas afectivas, do exílio anunciado No andar inquieto das mulheres. De rosto em rosto, a caligrafia do amor implorou a memória das palavras encantadas e, como se houvesse uma linguagem de atravessar o tempo, acenderam, sobre os dias, constelações sonoras. Mas eu, que não adiro aos calendários nem acredito em vogais prometidas, eu parti, de punhos febris, enlaçando nos braços um futuro marginal, a qualquer lógica. A posse da noite, onde me quero lua em todas as fases, leva-me a glosar os medos num novelo de rimas imperfeitas. A cidade tem pombas que me perseguem sem eu dar por isso. Tenho um aqueduto modelado nos olhos e um dilúvio vermelho no desenho do peito. Graça Pires