A leitora abre o espaço num sopro subtil. Lê na violência e no espanto da brancura. Principia apaixonada, de surpresa em surpresa. Ilumina e inunda e dissemina de arco em arco. Ela fala com as pedras do livro, com as sílabas da sombra. Ela adere à matéria porosa, à madeira do vento. Desce pelos bosques como uma menina descalça. Aproxima-se das praias onde o corpo se eleva em chama de água. Na imaculada superfície ou na espessura latejante, despe-se das formas, branca no ar. É um torvelinho harmonioso, um pássaro suspenso. A terra ergue-se inteira na sede obscura de palavras verticais. A água move-se até ao seu princípio puro. O poema é um arbusto que não cessa de tremer. António Ramos Rosa