Tinha os olhos claros feitos ao compasso das rãs no charco Nos olhos os tempos que roem os tempos que ficam nos olhos os tempos que doem por dentro dos olhos os tempos que gritam Nos olhos muitas águas lisas e demasiadas rugas matemáticas Nos olhos pouca dose (um civil mini prato, digamos) de obediência posta aos dias. E uma timidez crescente alguma regra e consistência na fuga à recta e, em muitos dos horários, ao olhar em frente. O desassossego próprio de um corpo cansado Em cada perna um joelho em bicos de pés em cada braço uma mão esticada e várias unhas. Como normalmente sucede, razoável supor, com toda a gente que tem, no mínimo, pernas mãos e braços. Tinha uma quantidade de nomes na lapela e uns quantos apelidos mais ou menos esquecidos - que um beijo não pede nem guarda parentescos; Daqueles que perdemos no que somos podemos perder até a alcunha, alguma estória mais vivaz uns quantos risos e arrelias, muito pouco. Mais fácil (mais complicado que qualquer desafio, a ser peremptório - por vezes é preciso) compor no prato já limpo a sétima e a oitava maravilha e achar que a cintura que tinha é para sempre a mais bela do mundo. Tinha nos olhos os mais claros compassos mãos de circo, mãos de alergia ao palhaço rico. Tinha nos olhos os charcos tinha nos olhos os nomes E nos olhos que tinha tinha, e sempre teria, no tempo de ser dia no tempo de ser noite um cão-guia, que seguia e seguia e seguia. Rui A.