Invejo os que escrevem porque querem quando querem quanto querem Invejo os que não escrevem e fazem nesse durante pausas a entreter dias de outra espécie Invejo o gato Sebastião, na sua sábia pachorra conventual de Xabregas, sobrevivente a Conselhos Directivos vários muito iguais, Invejo as roliças senhoras da frutaria que chamam amor ao seu menino Invejo por igual todos os cães da Guerra Junqueiro Invejo quem passeia distraído porque não é preciso Invejo a vontade de ir ao médico, que tanta inveja só pode fazer mal ao pequeno (sendo dos menores males, entre muitos que podia lembrar, esta feia coisa de ser a inveja o verbo mais presente de um miserável texto) Invejo dias de escrever outras coisas dias de outras pausas e palavras dias de cartas e moradas Vou aprendendo a tirar o relógio antes de te entrar em casa (que a última coisa que quero é magoar-te com fivelas), Mas esse é um outro texto, um de uns quantos que não sou capaz. E para esse vai o meu melhor tempo, que é teu. E quando assim penso não invejo, faz-me falta, que é algo diferente e sem dúvida mais distinto. E é claro que me fazem falta os que escrevem porque querem quando querem quanto querem E por aí adiante, calibrando e alterando. Não fosse hoje já sábado Ia de táxi chamar meu amor e minha querida às duas senhoras da frutaria. Ouvissem maridos, e se houvessem viriam, estava assim ganho o dia. Enfim, forma de dizer. A coragem é um verbo distante. Rui A.