Quando chegaram à nau e à orla do mar, logo estas coisas os nobres acompanhantes receberam e guardaram na côncava nau, assim como a comida e a bebida. Para Ulisses estenderam uma manta e um lençol de linho no convés da côncava nau, para que dormisse descansado junto à popa; ele embarcou e deitou-se em silêncio. Eles sentaram-se nos bancos, cada um no seu lugar, ordenadamente; e soltaram a amarra da pedra perfurada. Assim que se inclinaram para trás e o mar percutiram com os remos, caiu um sono suave sobre as pálpebras de Ulisses; um sono do qual se não acorda, dulcíssimo, semelhante à morte. Quanto à nau, tal como na planície quatro cavalos atrelados se precipitam todos ao mesmo tempo debaixo dos golpes do chicote e levantando bem alto as patas percorrem o caminho – assim levantava a proa e para trás ficava a grande onda cor de púrpura, espumando no mar marulhante. A nau seguia com segurança; e nem o falcão, a mais leve de todas as aves, a poderia ter acompanhado. Avançando com leveza, a nau cortou as ondas do mar, transportando um homem cujos conselhos igualavam os dos deuses, que já sofrera muitas tristezas no coração, que atravessara as guerras dos homens e as ondas dolorosas, mas que agora dormia em paz, esquecido de tudo quanto sofrera. Homero, Odisseia XIII, 70-92, trad. Frederico Lourenço