Se pudesses, O'Neill, ver hoje o teu país, (ou tu, Assis Pacheco, filho pródigo destes quintais floridos) velho de oito séculos e pouco mais velho desde que o deixaste, país que secretamente não vota para não se maçar enquanto furta com arte as gaiolas vizinhas a cantar nas paredes caiadas, país com mais que fazer (futebol para ver e mato para queimar); se pudesses vê-lo agora não levarias a peito, mas confirmarias, estou certo, que tem defeito de nascença ou de fabrico, mais valendo, por isso, como em vida tua valeu, deitar por terra a lança do ódio, fechar a navalha do tédio, sacudir o ombro amigo da solidão e rir sonoramente de tudo, talvez não tanto à porta da pastelaria como, hoje em dia, à porta dos chineses, mas rir sonoramente de tudo, dizia, - de ti mesmo, sobretudo. Rui Lage