Parada no meio do campo, na tarde de chuva, a mulher não avança para o meio da estrada, nem recua para perto da casa. Apanha chuva, com a cabeça virada para o chão, como se esperasse que a terra a engula, ou que o céu se esqueça dela, e as nuvens se afastem. Numa tarde de chuva, no meio do campo, há mulheres que não sabem para onde ir; e entre a casa e a estrada ficam paradas, ouvindo o ruído da chuva, e pensando na vida que as levou para o meio do campo, indecisas entre a terra e o céu, enquanto a chuva não pára. Ao ver a mulher parada no meio do campo, pensei em chamá-la, para que saísse de dentro da lama; mas continuei o meu caminho, como se ela não existisse, sabendo que se parasse ao lado dela também eu olharia para o chão, até que a terra me engolisse. Nuno Júdice