Do verão, diria uma planície lenta, quase amarela: o trigo a enrolar-se nos pés, o oiro do sol, os cabelos mais loiros. Um vento quente e ondulante sibilando nas frestas de um celeiro. O fumo sonolento do calor tornando informe o fio do horizonte. Do verão diria também um tempo espesso onde todos os acasos são sofríveis: duas papoilas, vermelho-sangue, agitam a paisagem. Tu chegas e a minha pele chama-te sete nomes em surdina. É a luz da tarde que faz o fulgor dos fenos e aquece a roupa que abandonou o corpo sem perguntas. As mãos podem então dar-se todos os recados. E amanhã ninguém sabe. Fica apenas um punhado de espigas quebradas sobre a planície lenta; amarela, digo: as papoilas, entretanto, voaram. Maria do Rosário Pedreira