Por que chorar de saudade, se me resta o longo mar sonoro e vazio, a flor perfeita, a estrela certa, e a canção que o pássaro vai bordando ao vento? Por que chorar de saudade, se me resta um jardim de palavras, e os bosques do eco e estes caminhos da memória me pertencem? Por que chorar pelo que me levais, se é maior o que fica: se a sombra em que voa recordo é mais bela que o vosso vulto, se não podeis ser em vós o que em mim sois, se em vós morreis e em mim ressuscitais? É melhor não ficar jamais com quem nos ama. O amor é um compromisso de grandeza, o amor é uma vigília incansável… e aparentemente vã. Passai, parti, deixai-me, vós que, no entanto, parecestes um momento mais adoráveis que o mar, que a flor, que a estrela, que a canção que um frágil pássaro vai borlando no vento… Éreis o vento, apenas. Cecilia Meireles