Nem mesmo o amor
Estremece a película dos olhos
frente à finitude de um rosto
que julgávamos íntimo com o nosso prazo.
Nome próprio, tantas vezes sussurrado,
pequeníssimo lugar de transparência
elidido sem remorsos.
Ver agora entrar uma flor sossegada,
um risco a alastrar
pela ganga do esquecimento,
e claro que nada sobra:
é só o tumor da inteligência que nos leva,
por vezes, a imaginar uma procissão
de gestos salvos
onde nem mesmo o amor,
rara interferência no descaso,
tem socorro.
Vasco Gato
Publicado em 15 de Novembro de 2015