Lembro que havia uma espécie de homem com uma espécie de raiva naquela espécie de bairro Lembro que o chão não era de escadas nem propício para patinagens, lembro que havia filtros bastante esquisitos, ângulos estranhos, naquele filme (não eram de Griffith nem Riefenstahl, mas exquisit quand même*) do século sete depois de alguma coisa. Não tinha propriamente um nome, que propriamente quisesse dizer (preferia ser chamado em forma de contexto, “aquele que, o tal”) aos que passavam, sobretudo aos mais contentes, que o irritavam um pouco, e não por inveja. Era assim uma espécie de homem assim dado a todas as espécies de fortuna com que todos sonham (espécie rara de europeu em milhões), - uns quantos, poucos, para lá da pré-reforma. Lembro que havia uma espécie de homem com uma espécie de raiva naquele pouco engraçado labirinto. Na sua crueza e falta de jeito para a espécie, amava os gatos e os cães, que por seu turno o tratavam como um igual. E ensaiava-lhes uns números de Eric Burdon, a atravessar rios (it’s such a drag to be on your own, dizia-lhes, fazendo figas) em direcção onde nem ele sabia. Lembro que ria, no pior da piada; como se no riso fosse a escada, o poço, os filhos que não teve, a dor no pescoço (de não o dobrar) e tantas e tantas outras conquistas. Não foi à tropa, tinha umas inconveniências no sangue. Saudável, morreu inteiro. Até ao fim. * Nasdrovia, nem mais nem menos Rui A.