Há três anos, durante a tarde, eu costumava sentar-me aqui atrás a tentar Dar resposta à aritmética singela da minha vida, Sem nunca a resolver: Este objecto e aquele objecto Nunca continham a paisagem nem todas as suas implicações, Esta árvore e aquele arbusto Nunca satisfaziam por completo o somatório ou o quociente Do qual eu retirava ou ao qual juntava, nem agora o fazem, Embora eu esteja de novo aqui atrás, apostado em fazer contas, Em tentar perceber o que bate certo. Tudo vem de algo, só o algo vem do nada, Diz Lao Tsé, mais ou menos. Eminentemente sensato, digo eu, Enquanto esfrego uma mínima concha de caracol entre o polegar e dois dedos. Delicada como um brinco, transporta o seu vazio como um filho Do qual se livraria. Esfrego-a no sentido dos ponteiros do relógio e contra, na esperança de encontrar Algo resplandecente no seu vocabulário ou disfarce — Mas um e um são nada, acrescenta ele, infindável e em toda a parte, A sombra que tudo projecta. Charles Wright, trad. Vasco Gato