No Final do Outono
Há três anos, durante a tarde,
eu costumava sentar-me aqui atrás a tentar
Dar resposta à aritmética singela da minha vida,
Sem nunca a resolver:
Este objecto e aquele objecto
Nunca continham a paisagem
nem todas as suas implicações,
Esta árvore e aquele arbusto
Nunca satisfaziam por completo o somatório ou o quociente
Do qual eu retirava ou ao qual juntava,
nem agora o fazem,
Embora eu esteja de novo aqui atrás, apostado em fazer contas,
Em tentar perceber o que bate certo.
Tudo vem de algo,
só o algo vem do nada,
Diz Lao Tsé, mais ou menos.
Eminentemente sensato, digo eu,
Enquanto esfrego uma mínima concha de caracol entre o polegar e dois dedos.
Delicada como um brinco,
transporta o seu vazio como um filho
Do qual se livraria.
Esfrego-a no sentido dos ponteiros do relógio e contra, na esperança de encontrar
Algo resplandecente no seu vocabulário ou disfarce —
Mas um e um são nada, acrescenta ele,
infindável e em toda a parte,
A sombra que tudo projecta.
Charles Wright, trad. Vasco Gato
Publicado em 3 de Novembro de 2015