Deixámos há muito de levantar os calcanhares como os outros – cavalo, cão e tigre – embora nos emocione a sua velocidade ao fugirem. Até mesmo o rato ao alancar o peso enorme de uma pepita de ração para cães exibe uma elegância invejável. A nossa passada tem pouca elasticidade, andamos tão sobrecarregados de responsabilidade, de todas as acções disciplinares que nos couberam, os castigos, as matanças, e todos com os pés bem cingidos nas peles dos derrotados. Mas por vezes, às primeiras horas da madrugada, é-nos dado a sentir como teria sido sermos um deles, em bicos de pés, passando furtivos por portas onde outros dormem, subitamente capazes de ver no escuro. Ted Kooser, trad. Vasco Gato