Na flor dos prados
Muito antes de ser autarquia
esta cidade acendeu-se com os teus olhos
dados ao perfeito;
Muito antes que viessem perguntar se as coisas iam bem
(para lá da fome e das invejas entre bairros,
para lá das dores de parto entre outras que as há,
para lá da falta de pão, do poder ir à escola devendo ir à escola,
para lá da suprema importância de rir à toa,
para lá da falta de democracia e hábitos civis)
eu sabia que todo o segundo era de ir buscar uma flor
ou um pedaço de fruta,
para ti.
Ingénua, e para que gostasses
(fazendo o tempo nesse tempo).
Muito antes que convocassem idades e ritmos e conveniências,
eu sabia que era urgente não ter pressa, e ter presente
o dia de sempre.
E preocupava-me com a falta de sociedade
e com a sociedade em falta
(talvez me preocupasse demasiado),
com as contas por pagar e com o pagá-las.
Eu sabia que não te podia levar a um bom restaurante,
mas o que mais me afligia era que não soubesses
(e essa sim era uma dor de cabeça)
Antes de saber que era uma autarquia,
antes da justiça social e urgente
eras tu a cidade
que eu não veria
Os teus olhos serão sempre os teus olhos.
Rui A.
Publicado em 28 de Fevereiro de 2016