Muito antes de ser autarquia esta cidade acendeu-se com os teus olhos dados ao perfeito; Muito antes que viessem perguntar se as coisas iam bem (para lá da fome e das invejas entre bairros, para lá das dores de parto entre outras que as há, para lá da falta de pão, do poder ir à escola devendo ir à escola, para lá da suprema importância de rir à toa, para lá da falta de democracia e hábitos civis) eu sabia que todo o segundo era de ir buscar uma flor ou um pedaço de fruta, para ti. Ingénua, e para que gostasses (fazendo o tempo nesse tempo). Muito antes que convocassem idades e ritmos e conveniências, eu sabia que era urgente não ter pressa, e ter presente o dia de sempre. E preocupava-me com a falta de sociedade e com a sociedade em falta (talvez me preocupasse demasiado), com as contas por pagar e com o pagá-las. Eu sabia que não te podia levar a um bom restaurante, mas o que mais me afligia era que não soubesses (e essa sim era uma dor de cabeça) Antes de saber que era uma autarquia, antes da justiça social e urgente eras tu a cidade que eu não veria Os teus olhos serão sempre os teus olhos. Rui A.