Se vierem à minha procura, encontrar-me-ão para lá da terra de ninguém. Para lá da terra de ninguém existe um lugar; para lá da terra de ninguém, as artérias do ar estão repletas de dentes de leão, trazendo mensagens da flor despontada na árvore mais distante da terra. Na areia estão gravadas as marcas dos cascos dos cavalos desses refinados cavaleiros que de madrugada acorreram às colinas da assunção das papoilas. Para lá da terra de ninguém, o guarda-sol do desejo permanece aberto e, enquanto a brisa da ânsia percorre os fundos de uma folha, desatam a tocar os sinos da chuva. Aqui, está-se sozinho, e nesta solidão a sombra de um ulmeiro estende-se até à eternidade. Se vierem ver-me, venham devagar e mansamente, para que não se risque o fino cristal da minha solidão. Sohrab Sepehri, versão de Vasco Gato