Um Oásis no Instante
Se vierem à minha procura,
encontrar-me-ão para lá da terra de
ninguém.
Para lá da terra de ninguém existe um
lugar;
para lá da terra de ninguém, as artérias
do ar estão repletas de dentes de
leão,
trazendo mensagens da flor despontada
na árvore mais distante da terra.
Na areia
estão gravadas as marcas dos cascos
dos cavalos desses refinados
cavaleiros
que de madrugada
acorreram às colinas da assunção
das papoilas.
Para lá da terra de ninguém, o guarda-sol
do desejo permanece aberto
e, enquanto a brisa da ânsia percorre os
fundos de uma folha,
desatam a tocar os sinos da chuva.
Aqui, está-se sozinho,
e nesta solidão
a sombra de um ulmeiro estende-se até à
eternidade.
Se vierem ver-me,
venham devagar e mansamente,
para que não se risque
o fino cristal da minha solidão.
Sohrab Sepehri, versão de Vasco Gato
Publicado em 18 de Março de 2016