Repara como brilham papoilas nos teus olhos,
repara como são de ouro as rendas do teu sorriso.
Repara, bailas como uma mulher iluminada em pontas
como se fosse ar o que respiras
(o ar das frestas, esse, o desejado).
Repara como brilhas no asfalto de luzes
na candeia do bairro
nas margens desta cidade, deste quarto.
Repara como no meio da noite plantas o ouvido inteiro,
a ver como poisa Bob Dylan nos teus segredos
(cantando 1966 em voz eléctrica para protestantes
- Ballad of a Thin Man, disse, a quem havia ou não).
Repara como cães e gatos estão mais felizes de te ver assim
(também o canário de Dona Eulália canta com vontade, parece que até Dona Eulália se atreve a um fado, apesar do pouco conveniente e útil namorado).
Repara como te parecem fáceis de compreender (mais que aceitar)
as dicotomias norte-sul, as questões dos países subdesenvolvidos,
o papel da Nações Unidas em alguns processos,
um dente do siso tardio.
Repara no alarido lá fora:
convocaste uma data de populares
(e és estimada, mais do que sabias, pelos vizinhos).
Repara como é bela,
repara como é veloz,
este triciclo
esta ambulância.
e o assobio.
Rui A.
Balada de um homem magro
Publicado em 11 de Maio de 2016